Por incrível que possa parecer uma receita médica para quem tem pressão baixa pode, além de manter equilibrada ou nornal a pressão, também tornar o paciente um alcólatra. Assim aconteceu comigo. E não estou jogando a culpa no médico, muito pelo contrário. Foi, digamos, imprevidência minha, pois o whisky passou a ser bom pelos motivos que logo explico. Foi por volta do início dos anos de 1970. Era uma tarde de verão próximo das 17 horas: O grupo de amigos sentados às mesas da Padaria e Lancheria Hampe (de Antônio Hampe Müller) dispostas na calçada da rua Guilherme Schell esquina Cel.Vicente bebericando cerveja, enquanto eu, meio isolado, cabisbaixo e sem motivação, bebia meu copo de leite, pois achava que estava com fome, fraqueza. Me sentia um tanto estranho e meio grogue.
Na rua Guilherme Schell, abaixo uns 80 metros, próximo da rua Pedro Weingartner, ficava a Clínica Médica do saudoso amigo e médico João Quintana (foto). Lá fui eu prá consultar e saber o que se passava comigo. De imediato o Dr. Quintana, como era conhecido, procurou logo saber como estava a minha pressão, tomou e conferiu: 8 x 4. Baixíssima. Eu sequer sabia o que isso significava. Mas lembro que o Dr. Quintana, com um ar meio de surpreso, falou que o estado que me sentia era conseqüência da pressão baixíssima. Eu nunca havia ingerido bebida alcoóloca. Aí veio a surpreendente receita: "Toma uma dose de conhaque diariamente", disse-me Quintana. Me apavorei, porque o conhaque era uma bebida forte e aí respondi que conhaque não, era muito forte. "Então bebe uma dose de whisky todos os dias. Se achares forte coloca uma ou duas pedras de gelo", que é o chamado whisky on the rock.
A patir da receita do amigo e médico João Quintana passei a cumprir o que me receitara: uma dose de whisky diariamente. A primeira doze on the rock que tomei foi no Bar do Ângelo (Baldo), na rua Cândido Machado esquina com Rua Ipiranga, em frente à sede da Prefeitura Municipal, em companhia do amigo Valdelírio (Hugo) Correa, um contumaz bebedor de whisky. Como ia bebendo lentamente, pois achava forte, o gelo ia derretendo e o whisky cada vez mais aguado. Aquilo começou a me dar ânsia de vômito. Aí o contumas bebedor Hugo Correa me aconselhou: "bebe o whisky sem gelo. A primeira doze vai queimar um pouco a garganta , a segunda já vai parecer mais suave, na terceira não vais mais sentir a ardência do whisky na garganta". E assim fiz por bom tempo. Só que nas festas, que eram praticamente de terças a sábados, ininterruptamente, pois o meu trabalho era de cronista social, a coisa foi engrossando e eu, praticamente sem me dar por conta, tomando mais doses do que me receitara o Dr. Quintana. Era uma vontade ou desejo instintivo de estar com o copo na mão ou, quando sentado, à minha frente.
Essa receita passou a ser um hábito e o hábito virou praticamente um vício, pois já não podia passar um dia sem beber uma ou duas doses do bom scotch. Além de tudo, me ajudava a perder a timidez e também diminuia a minha gagueira, essa adquirida aos 10 ou 11 anos, depois de um grande e apavorante susto. E assim a coisa foi evoluindo ao ponto de, poucas vezes é bem verdade, chegar a beber um litro e meio de whisky cow-boy numa noitada. Já chegara ao ponto de conhecer os melhores scotchs, como Ballantine´s, Johnnie Walker Red Label, Johnnie Walker Black Label, J & B, Teacher, Chivas, Jack Daniel´s, Grant´s, Buchanan, White Horse, etc. Em lugares que não haviam essas refinadas marcas de scotch no mínimo Passaport ou Natu Nobilis. Porém, jamais bebi de dia e nem antes das 19:30 ou 20:00 horas e da mesma forma jamais misturava whisky com qualquer outra bebida alcoólica. Acredito que subliminarmente dentro de mim corria sangue escocês.
Foram anos a fio conservado em selitivos scotchs. Talvez esteja aí a explicação de tanta paciência e persistência em permanecer durante 38 anos, ininterruptos, fazendo a magia que o colunismo social desperta na maioria das pessoas, revelando personagens e personalidades da high society canoense e até mesmo de Porto Alegre, quando o cobiçado point da noite era o pub Água Na Boca, do amigo Pedro Mello e Victor Hugo Tito, na José do Patrocínio e depois somente com Pedro Mello pontificando, então, num belo e antigo sobrado junto à Praça Conde de Porto Alegre. Claro, havia, ainda, o Encouraçado Butikin, que depois passou para Encouraçado 936, sempre na nobre Av. Independência.
O Água Na Boca era a casa noturna em que a movimentação começava de fato sempre depois das 23 ou 24 horas e onde os socialitès encerravam suas noitadas. E por lá passaram centenas de colunáveis da high society de Porto Alegre e de Canoas, quando lá realizei inúmeras festas privès, como "As Dez Mais", "Encontro dos Cancerianos" e "desfile de moda da Petruska Modas", da amiga Márcia Kovalew, quando fazia parte da equipe de manequins a saudosa atriz Leila (Gomes) Lopes.
No vaivém da movimentação da mais concorrida casa noturna do Portinho me encontrava com personalidades como Maurício Sirotski Sobrinho, os Borges Fortes, a belíssima Léa Caruso Guarise, a ex-primeira-dama Tereza Goulart, o poeta Jaime Caetano Braun, o então l´ottavo rè di Roma Paulo Roberto Falcão (sua marca era a elegância e a discrição e à época já jogava no Roma, Itália), os craques Renato (Gaúcho) Portaluppi, João Batista da Silva, casal Natalino e Nilza Tomazzi, os jornalistas: Magda Beatriz, Clóvis Duarte, Roberto (Tatata) Pimentel, Roberto Gigante, Carlos (Mário Pereira) da Maia, Sérgio Poli, o costureiro Cattani, a belíssima e simpática Márcia Petersen, entre mais e mais personalidades, jornalistas e colunistas sociais.
Além disso, Pedro Mello investia em grandes shows como o cantor espanhol Manolo Otero, Jô Soares, Fafá de Belém e outros artistas de renome nacional mais.
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