terça-feira, 10 de maio de 2011

Guindani foi um prefeito prato cheio prá imprensa ...

Pois, dos tantos prefeitos, ou melhor interventores, nomeados pelos ditadores no período dos 21 anos da "ditadura fardada", quando Canoas foi extemporaneamente qualificada de "Área de Segurança Nacional" (daí ter seus interventores nomeados pelo Governador, também um interventor, e com o benepláscito do Presidente da República, outro interventor), Osvaldo Cipriano Guindani foi um prato cheio prá imprensa. Tudo devido a sua empáfia, prepotência e gana de aparecer. Estava sempre atento para onde apontavam os holofotes (pode-se entender por máquinas fotográficas). Aí se postava em pose de perfilado e aguardava que apontassem as máquinas e disparasse os flashes em sua direção.

Dele lembro de muitas peripécias. Mas a que mais me deixou satisfeito, foi uma saída que tivemos juntos. No final da tarde de um dia de um ano que não lembro de memória, quando estávamos saboreando um churrasco e curtindo a festa no salão social da extinta Caixa Econômica Estadual, então localizada na Rua 15 de Janeiro, onde hoje resta uma filial do Banrisul, Guindani, que detestava que o chamasem de Guindani ou de Osvaldo, pois, dado a sua empáfia e soberba, queria que o tratassem de Doutor Osvaldo ou Prefeito Guindani, me convidou para acompanhá-lo ao Baile de Escolha da Mais Bela Mulata de Canoas, que se realizava na Sociedade Cultural e Beneficente Castro Alves, então freqüentada somente por negros.

Primeiramente passamos na sua casa onde deixaria o filho que dormia no banco traseiro do seu carro. Enquanto acomodava o filho na cama e punha o traje com gravata, e inquerido pela sua esposa, Rose Mari Broch Guindani onde iríamos, respondi que passaríamos na Soeciedade Castro Alves e depois iríamos ao aniversário do França Jacobi, cuja festa aconteceria no apartamento do meu amigo e figurinista Dyrson Cattani (autor de belas e concorrida fantasias, mácaras e aderaços para Carnaval), então morando na Av. Ipendendência, em Porto Alegre. E, com tom de maldade, disse que iria à festa do França só porque o Prefeito ia junto.
- Por quê?, perguntou-me Rose.
- Como o Cattani é homossexual eu imagino como deverá ser as festas lá, respondi, já ironizando, pois bem que conhecia o Cattani e já havia participado de duas ou três festas em seu apartamento sem que absolutamente nada demais ou de anormal acontecesse. Pelo contrário, Cattani foi sempre um elegante, educado e requintado anfitrião.
- Ah! Então o Osvaldo não vai, assegurou Rose, que estava com um pé machucado e não podia calçar sapatos, ao que respondi:
- Ele é o Prefeito, tenho certeza que ele indo vão respeitá-lo e não vai acontecer nada de anormal.

Nesse meio tempo o Osvaldo, já devidamente aplumado de terno azul marinho e gravata, entra na sala. E de sopetão diz Rose:
- Osvaldo tu não vai sozinho, eu vou junto.
- Mas tu não pode calçar os sapatos, como é que tu vais?, retrucou Osvaldo.
- Não! O Xico me disse que só vai à festa do Cattani porque tu vai também, porque ele me disse ... Aí eu a interrompi.
- Eu não afirmei, apenas disse que imaginava que pudesse acontecer certas coisas, mas com a presença do Prefeito eu tinha a certeza de que nada do que eu imaginava pudesse acontecer. Sempre procurando ironizar. Aquele dia foi, prá mim, uma espécie de "vendetta".

Chegamos na Sociedade Castro Alves e não havendo mais lugar para estacionar o carro, já que o único lugar que havia impedia que os demais pudessem sair. Aí chegou um Negão (não sabia e nem nunca sube o nome do cidadão de cor preta), já bastante entornado, e com vez grave de um quase rouca, lascou:
- "Aqui não pode estacionar!". O Prefeito tentou argumentar, mas não houve cristo que o Negão concordasse. Aí eu disse:
- Osvaldo, deixa que eu contormo a situação. Saí do carro e fui até o Negão. E em voz baixa justifiquei:
- Negão! Esse aí é o Prefeito de Canoas, se tu não deixar ele colocar o carro aqui ele manda fechar o baile. E o Negão, concordando, respondeu com aquela voz grave e embargada de entornado:
- Então tá, mas a chave fica comigo.
O Osvaldo relutou desconfiado e com medo que o Negão roubasse alguma coisa ou o próprio carro. Aí novamente intervi:
- Esse Negão, Osvaldo, eu conheço há muito tempo. É gente fina, gente boa. Ele apenas tomou uns tragos a mais, mas é de total confiança. Assim, com o Osvaldo convencido, entramos no clube.

Tem seguimento ...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PERSONALIDADES QUE ME FIZERAM PERDER A ELEGÂNCIA E AS ESTRIBEIRAS

O ATOR GAÚCHO JOSÉ LEWGOY

Era uma das edições do Festival do Cinema de Gramado, ainda nos anos 80. E lá estava para cobrir o evento para o jornal em que trabalhava, o qual jamais se prontificou a custear qualquer despesa, nem mesmo a hospedagem em hotéis ou a gasolina de ida-e-volta à belíssima e aprazível Gramado. Mas eu, durante 22 edições do festival, me prontifiquei a fazer a cobertura para os meus leitores. Assim, com o apoio e o patrocínio de empresas locais, conseguia trazer informações exclusivas do que acontecia no evento, especialmente fatos ou feitos de bastidores, e muitas entrevistas sempre exclusivas. Jamais participei de coletivas, pois detestava aquele monte de jornalista fazendo perguntas idiotas e se revelando sem o menor preparo.

Assim, certo dia me encontrava no hall do Hotel Serra Azul, onde a maioria dos artistas convidados ficavam hospedados, a espreita de encontrar algum artista que fosse interessante entrevistar. De repente vi o ator gaúcho José Lewgoy, tio do delegado de polícia Alaor de Almeida Lewgoy, que se tornara meu amigo quando destacado para Canoas. Me dirigi até o ator Lewgoy, então tido como um dos grandes do cenário artístico, e procurei marcar um horário e dia para uma entrevista tranqüila e exclusiva. Ele se prontificou a concedê-la ali na mesma hora. Sentamos num grande sofá que era mais cômodo. Eu carregava, à época, um rádio gravador com fio longo para o microfone, que mais parecia uma mala, enquanto que a entrevista seria gravada numa fita cassete.

Antes é preciso detalhar um acontecido que eu presenciara junto ao balcão da recepção do Hotel. Cada apartamento era reservado para dois atores ou duas atrizes, mas José Lewgoy, por conta e risco, levou uma garota como companheira e se instalou no quarto, já que o outro ator que deveria ocupar a outra cama ainda não havia chegado. Mas naquele exato dia da entrevista eis que o outro ocupante do apartamento chegara. Devia ser uma sexta-feira e o festival encerrava no domingo. Lewgoy foi convidado a desocupar a outra cama e, assim, dividir o quarto com o outro ator convidado. E prá complicar ainda mais não havia apartamentos disponíveis no Hotel Serra Azul. Lewgoy, irritado, indignado dizia impropérios e garantia que não dividiria o apartamento sob a alegação de que estava acompanhado. A confusão se formou, enquanto isso o gerente do hotel tentava buscar outra alternativa para contornar a situação, mas, infelizmente, não houve como resolver dado todos os apartamentos estarem ocupados.

Nesse intermezzo Lewgoy se dispos a conceder-me a entrevista e assim nos acomodamos num grande sofá no hall do Hotel Serra Azul. Lá pelas tantas fôra chamado à recepção para dar uma solução aos problema que criara: ou seja, desocupar o outro leito do apartamento. Irritado e mostrando-se um perfeito ignaro por se achar um "big star" da televisão e do cinema nacional, antes de levantar-se do sofá onde concedia a entrevista, num inesperado ato impulsivo jogou o microfene e deu um safanão no gravador que estava sobre as minhas pernas, e que acabou caindo no chão. Achei que havia quebrado o gravador e, assim, estaria sem material para trabalhar até o final do festival. No mesmo momento, tomado de indignação, pois nada tinha a haver com a confusão que ele próprio tinha armado, retruquei polidamente com um sonoro:

- "Velho, fdp, vai a pqp". Foi o suficiente para que muita gente que se encontrava no hall do hotel se voltassem para nós, enquanto eu catava o microfone e o gravador do chão.

Cerca de 50 minutos ou uma hora depois, José Lewgoy cruza por mim, bate no meu ombro e diz:

- "Vamos continuar a entrevista?". Ao que, educadamente, respondi:

- "Agora não me interessa mais velho fdp e mal educado".

A cena foi testemunhada por Paulo Rogério Glaesler (meu ex-vizinho da Rua Frederico Guilherme Ludwig) e Cristina Würth, casualmente ambos meus conhecidos e amigos de Canoas, conforme mostra a foto.

Fim da cena ... Desce o pano!

O MINISTRO DA JUSTIÇA, PAULO BROSSARD DE SOUZA PINTO


Nunca fui de levar desaforo prá casa, partisse de quem partisse. E assim foi também com o então Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto, quando o presidente da República era José Sarney e o prefeito de Canoas, Carlos Loreno Giacomazzi.

Canoas havia recém deixado de ser Área de Segurança Nacional e, assim, eleito Carlos Loreno Giacomazzi (PMDB) o primeiro prefeito pelo voto popular depois de 21 anos de arbítrio. Ou seja, da nefasta ditadura militar. O Município carecia de maior segurança. Diante disso, depois de tratado com o Ministério da Justiça, Canoas ganhou 15 Fuscas que faziam parte da campanha "Ruas em Paz", promovida pelo Governo Federal. A cerimônia de entrega das 15 viaturas foi celebrada na Praça da Emancipação, em frente à primeira sede própria do governo Municipal (atual sede do governo municipal) e, obviamente, com a presença do Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto (PMDB).

Eu estava Assessor de Imprensa do prefeito Carlos Giacomazzi e fazia a cobertura sob o enfoque oficial. Durante a cerimônia, ainda na Praça da Emancipação, ensaiei uma entrevista exclusiva com o Ministro Brossard de Souza Pinto. Porém, como toda a comitiva oficial e autoridades estavam se dirigindo para o gabinete do Prefeito, tive que interromper a entrevita.

Mas no trajeto de uns 50 metros entre a Praça e a sede da Prefeitura, então na Rua Ipiranga, 123, vendo o Ministro Paulo Brossard à frente do pelotão e sozinho, me apressei em concluir a entrevista. Consultado, Paulo Brossard de Souza Pinto acenou concordando em complementar a entrevista. Assim, caminhamos lado a lado enquanto eu fazia as perguntas e o Ministro ia respondendo serenamente, até porque na condição de Assessor de Imprensa do Prefeito não poderia fazer perguntas que o colocasse numa situação embaraçosa. De repente, sem mais nem menos, numa atitude impulsiva, incompreendida e malfeita, eis que o Ministro com um tapa joga o pequeno gravador, que eu portava na mão, na calçada. Prá uma personalidade da estirpe dele e considerando o posto que ocupava, não fosse o pedantismo e má educação, jamais poderia ter feito o que fez, até porque nenhuma pergunta era indiscreta, uma armadilha ou embaraçosa. Resumindo, um ato gratuito que revelou ser o ex-Ministro da Justiça, afora a sua propalada inteligência, um grosseiro e provalecido. Mas se deu mal porque encontrou um jornalista que não considera o cargo, mas as atitudes de quem ocupa certos cargos, e levou o troco na mesma medida da sua tosca atitude.

Sem entender o motivo de tão deselegante, incoseqüente e injustificado gesto, agachei-me e apanhei o gravador e as pilhas que haviam saltado do aparelho. Ao me levantar, tomado de indignação diante de tamanha incivilidade, disse explicitamente e sem rodeios ao Ministro da Justiça Paulo Brossard de Souza Pinto:

- "Ministro, vai a pqp, porque o senhor é muito mal educado", e apressei o passo chegando à frente de todos à Prefeitura. Aguardava por alguma reação do Ministro, mais ainda quando já estávamos todos no gabinete do prefeito Carlos Giacomazzi. Qual nada, o Ministro não demonstrou qualquer reação, mesmo que eu esperasse uma reclamação ao Prefeito ou coisa que o valha ... Acredito que no intemezzo entre o local do ocorrido e a chegada ao gabinete do Prefeito, Paulo Brossard de Souza Pinto, tido como um político inteligente, astuto e até sensato, deve ter consultado a sua consciência e analisado o injustificado e grosseiro ato que praticara. E, quiçá, até impactado pela minha inesperada e surpreendente reação. Daí a não re-reação dele.

Para felicidade minha e do próprio Ministro da Justiça tudo acabou num silencioso "happy end".

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