quarta-feira, 4 de maio de 2011

PERSONALIDADES QUE ME FIZERAM PERDER A ELEGÂNCIA E AS ESTRIBEIRAS

O ATOR GAÚCHO JOSÉ LEWGOY

Era uma das edições do Festival do Cinema de Gramado, ainda nos anos 80. E lá estava para cobrir o evento para o jornal em que trabalhava, o qual jamais se prontificou a custear qualquer despesa, nem mesmo a hospedagem em hotéis ou a gasolina de ida-e-volta à belíssima e aprazível Gramado. Mas eu, durante 22 edições do festival, me prontifiquei a fazer a cobertura para os meus leitores. Assim, com o apoio e o patrocínio de empresas locais, conseguia trazer informações exclusivas do que acontecia no evento, especialmente fatos ou feitos de bastidores, e muitas entrevistas sempre exclusivas. Jamais participei de coletivas, pois detestava aquele monte de jornalista fazendo perguntas idiotas e se revelando sem o menor preparo.

Assim, certo dia me encontrava no hall do Hotel Serra Azul, onde a maioria dos artistas convidados ficavam hospedados, a espreita de encontrar algum artista que fosse interessante entrevistar. De repente vi o ator gaúcho José Lewgoy, tio do delegado de polícia Alaor de Almeida Lewgoy, que se tornara meu amigo quando destacado para Canoas. Me dirigi até o ator Lewgoy, então tido como um dos grandes do cenário artístico, e procurei marcar um horário e dia para uma entrevista tranqüila e exclusiva. Ele se prontificou a concedê-la ali na mesma hora. Sentamos num grande sofá que era mais cômodo. Eu carregava, à época, um rádio gravador com fio longo para o microfone, que mais parecia uma mala, enquanto que a entrevista seria gravada numa fita cassete.

Antes é preciso detalhar um acontecido que eu presenciara junto ao balcão da recepção do Hotel. Cada apartamento era reservado para dois atores ou duas atrizes, mas José Lewgoy, por conta e risco, levou uma garota como companheira e se instalou no quarto, já que o outro ator que deveria ocupar a outra cama ainda não havia chegado. Mas naquele exato dia da entrevista eis que o outro ocupante do apartamento chegara. Devia ser uma sexta-feira e o festival encerrava no domingo. Lewgoy foi convidado a desocupar a outra cama e, assim, dividir o quarto com o outro ator convidado. E prá complicar ainda mais não havia apartamentos disponíveis no Hotel Serra Azul. Lewgoy, irritado, indignado dizia impropérios e garantia que não dividiria o apartamento sob a alegação de que estava acompanhado. A confusão se formou, enquanto isso o gerente do hotel tentava buscar outra alternativa para contornar a situação, mas, infelizmente, não houve como resolver dado todos os apartamentos estarem ocupados.

Nesse intermezzo Lewgoy se dispos a conceder-me a entrevista e assim nos acomodamos num grande sofá no hall do Hotel Serra Azul. Lá pelas tantas fôra chamado à recepção para dar uma solução aos problema que criara: ou seja, desocupar o outro leito do apartamento. Irritado e mostrando-se um perfeito ignaro por se achar um "big star" da televisão e do cinema nacional, antes de levantar-se do sofá onde concedia a entrevista, num inesperado ato impulsivo jogou o microfene e deu um safanão no gravador que estava sobre as minhas pernas, e que acabou caindo no chão. Achei que havia quebrado o gravador e, assim, estaria sem material para trabalhar até o final do festival. No mesmo momento, tomado de indignação, pois nada tinha a haver com a confusão que ele próprio tinha armado, retruquei polidamente com um sonoro:

- "Velho, fdp, vai a pqp". Foi o suficiente para que muita gente que se encontrava no hall do hotel se voltassem para nós, enquanto eu catava o microfone e o gravador do chão.

Cerca de 50 minutos ou uma hora depois, José Lewgoy cruza por mim, bate no meu ombro e diz:

- "Vamos continuar a entrevista?". Ao que, educadamente, respondi:

- "Agora não me interessa mais velho fdp e mal educado".

A cena foi testemunhada por Paulo Rogério Glaesler (meu ex-vizinho da Rua Frederico Guilherme Ludwig) e Cristina Würth, casualmente ambos meus conhecidos e amigos de Canoas, conforme mostra a foto.

Fim da cena ... Desce o pano!

O MINISTRO DA JUSTIÇA, PAULO BROSSARD DE SOUZA PINTO


Nunca fui de levar desaforo prá casa, partisse de quem partisse. E assim foi também com o então Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto, quando o presidente da República era José Sarney e o prefeito de Canoas, Carlos Loreno Giacomazzi.

Canoas havia recém deixado de ser Área de Segurança Nacional e, assim, eleito Carlos Loreno Giacomazzi (PMDB) o primeiro prefeito pelo voto popular depois de 21 anos de arbítrio. Ou seja, da nefasta ditadura militar. O Município carecia de maior segurança. Diante disso, depois de tratado com o Ministério da Justiça, Canoas ganhou 15 Fuscas que faziam parte da campanha "Ruas em Paz", promovida pelo Governo Federal. A cerimônia de entrega das 15 viaturas foi celebrada na Praça da Emancipação, em frente à primeira sede própria do governo Municipal (atual sede do governo municipal) e, obviamente, com a presença do Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto (PMDB).

Eu estava Assessor de Imprensa do prefeito Carlos Giacomazzi e fazia a cobertura sob o enfoque oficial. Durante a cerimônia, ainda na Praça da Emancipação, ensaiei uma entrevista exclusiva com o Ministro Brossard de Souza Pinto. Porém, como toda a comitiva oficial e autoridades estavam se dirigindo para o gabinete do Prefeito, tive que interromper a entrevita.

Mas no trajeto de uns 50 metros entre a Praça e a sede da Prefeitura, então na Rua Ipiranga, 123, vendo o Ministro Paulo Brossard à frente do pelotão e sozinho, me apressei em concluir a entrevista. Consultado, Paulo Brossard de Souza Pinto acenou concordando em complementar a entrevista. Assim, caminhamos lado a lado enquanto eu fazia as perguntas e o Ministro ia respondendo serenamente, até porque na condição de Assessor de Imprensa do Prefeito não poderia fazer perguntas que o colocasse numa situação embaraçosa. De repente, sem mais nem menos, numa atitude impulsiva, incompreendida e malfeita, eis que o Ministro com um tapa joga o pequeno gravador, que eu portava na mão, na calçada. Prá uma personalidade da estirpe dele e considerando o posto que ocupava, não fosse o pedantismo e má educação, jamais poderia ter feito o que fez, até porque nenhuma pergunta era indiscreta, uma armadilha ou embaraçosa. Resumindo, um ato gratuito que revelou ser o ex-Ministro da Justiça, afora a sua propalada inteligência, um grosseiro e provalecido. Mas se deu mal porque encontrou um jornalista que não considera o cargo, mas as atitudes de quem ocupa certos cargos, e levou o troco na mesma medida da sua tosca atitude.

Sem entender o motivo de tão deselegante, incoseqüente e injustificado gesto, agachei-me e apanhei o gravador e as pilhas que haviam saltado do aparelho. Ao me levantar, tomado de indignação diante de tamanha incivilidade, disse explicitamente e sem rodeios ao Ministro da Justiça Paulo Brossard de Souza Pinto:

- "Ministro, vai a pqp, porque o senhor é muito mal educado", e apressei o passo chegando à frente de todos à Prefeitura. Aguardava por alguma reação do Ministro, mais ainda quando já estávamos todos no gabinete do prefeito Carlos Giacomazzi. Qual nada, o Ministro não demonstrou qualquer reação, mesmo que eu esperasse uma reclamação ao Prefeito ou coisa que o valha ... Acredito que no intemezzo entre o local do ocorrido e a chegada ao gabinete do Prefeito, Paulo Brossard de Souza Pinto, tido como um político inteligente, astuto e até sensato, deve ter consultado a sua consciência e analisado o injustificado e grosseiro ato que praticara. E, quiçá, até impactado pela minha inesperada e surpreendente reação. Daí a não re-reação dele.

Para felicidade minha e do próprio Ministro da Justiça tudo acabou num silencioso "happy end".

* Para ampliar as fotos basta um clique sobre as mesmas.
** Contatos via e-mail: la-stampa@ig.com.br

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