sábado, 8 de outubro de 2011

Três momentos, três comemorações

A agitação social em Canoas nos anos diamantinos e setentinos acontecia desde uma festa de quinze anos, aos encontros em bares ou clubes sociais e para um "comes e bebes" - e se bebemorava às deveras - por motivos diversos, como após a disputa de uma partida de futebol de campo ou de um jogo de futebol de salão, o que estava muito em voga à época.

Assim, postamos três registros de três comemorações.
Algum encontro com um bom pretexto para comemoração. Na foto: Carlinhos Costa (Zefa), o saudoso Célio Soares, Mariozinho Costa, radialista Altair Colussi, João Alberto Wütrock e o Turco.
O saudoso amigo Quarenta, pai do também amigo Guto, com Carlinhos Costa (Zefa): no panelão, com certeza, a bóia para a comemoração.
A festa comemorativa dos 15 anos da jovem Vera Vieira, filha do saudoso Bastião, cujo tinha uma banca jornais e revistas na Rua Victor Barreto, propositadamente em frente à parada de ônibus para quem ia do centro de Canoas para as vilas (hoje bairros) Fátima, Rio Branco e Niterói. Na foto, nome completo, James Oliveira.
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CANOAS: Alquimias e lembranças dos anos diamantinos

A alquimia, ao contrário da ciência moderna que busca descobrir o novo, preocupava-se com os segredos do passado, além de preservar um suposto conhecimento antigo. Alquimizar, portanto, é como se o elixir da longa vida, um remédio que curaria todas as coisas e daria longevidade àqueles que o ingerissem. A idéia da transformação de metais em ouro, por exemplo, acredita-se estar diretamente ligada a uma metáfora de mudança de consciência, um oposto de "metamorfose ambulante" como cantou o super roqueiro Raul Seixas. A pedra, assim, seria a mente "ignorante" que é transformada em "ouro", ou seja, "sabedoria".

É assim que, de certa forma, procuro trazer à tona a lembrança de um tempo dourado e que jamais será esquecido. Um tempo que marcou uma geração, cuja criatividade rompeu barreiras, tabus e preconceitos, enquanto a sua coragem derrubou estigmas quase seculares. E um dos mais marcantes exemplos foi o movimento denominado de "Woodstock", nos Estados Unidos, no ano de 1969 e o "Cio da Terra" ou "Woodstock Gaúcho", promovido nos Pavilhões da Festa da Uva, em Caxias do Sul/RS, nos dias 29, 30, 31 de outubro de 1982, com a participação de 15 mil jovens, enquanto no restante do Brasil vivíamos soba égide do movimento chamado de "Jovem Guarda", seguido pelo "tropicalismo". Ambos não resultaram em nada em termos de revolução social ou renovação de atitudes, a não ser em certos comportamentos como a maneira de vestir, de dançar, do corte de cabelos, mas movimentos com certa dose de alienação que se tornaram marcas indeléveis na nossa vida de adolescentes desde os anos dourados, passando pelos diamantinos até os setentinos.

Assim, levo até vocês registros fotográficos de um grupo de amigos que marcaram essas três décadas em Canoas, porém, é preciso ressaltar que em absoluto os registros têm a haver com o movimento iniciado a partir da UEE - União Estadual de Estudantes. Foi apenas e tão somente um registro histórico para rememorar o quão indignada era a juventude daquelas décadas.

E vamos aos registros dos jovens canoenses:
Na inauguração do escritório de engenharia dos Vargas: Cláudio Odir Fagundes de Vargas e Carlos Gilberto Fernandes de Vargas, vendo-se na foto: Neco, Cláudio Odir Fagundes de Vargas, Carlos Gilberto Fernandes de Vargas (Giba), Naldo, Manoel, João Nienov, Ricardo, Carlinhos Costa (Zefa) e Zequinha Soares.
A comemoração teve a presença do cronista social Francisco Antonio Pagot (Xio Júnior), Ricardo, Manoel, Naldo. E sentados: Carlinhos Costa (Zefa), Zequinha Soares, Carlos Gilberto Fernandes de Vargas (Giba), José Antônio Scarantto e João Nienov. 
Carlinhos Costa (Zefa) dando o show, Francisco Antonio Pagot (Xico Júnior - encoberto), Zequinha Soares, Carlos Gilberto Vargas (Giba) e José Antonio Scarantto.
Carlinhos (Zefa) Costa cantando na inauguração do Escritório de Engenharia criado por Carlos Gilberto Fernandes de Vargas (o Giba) e o Cláudio Vargas, então na rua XV de Janeiro, próximo ao hoje Via Porcello Shopping. Na foto, além do Carlinhos, em primeiro plano, vê-se: Beretta, Francisco Antonio Pagot (Xio Júnior), Zequinha e Giba Vargas.
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terça-feira, 10 de maio de 2011

Guindani foi um prefeito prato cheio prá imprensa ...

Pois, dos tantos prefeitos, ou melhor interventores, nomeados pelos ditadores no período dos 21 anos da "ditadura fardada", quando Canoas foi extemporaneamente qualificada de "Área de Segurança Nacional" (daí ter seus interventores nomeados pelo Governador, também um interventor, e com o benepláscito do Presidente da República, outro interventor), Osvaldo Cipriano Guindani foi um prato cheio prá imprensa. Tudo devido a sua empáfia, prepotência e gana de aparecer. Estava sempre atento para onde apontavam os holofotes (pode-se entender por máquinas fotográficas). Aí se postava em pose de perfilado e aguardava que apontassem as máquinas e disparasse os flashes em sua direção.

Dele lembro de muitas peripécias. Mas a que mais me deixou satisfeito, foi uma saída que tivemos juntos. No final da tarde de um dia de um ano que não lembro de memória, quando estávamos saboreando um churrasco e curtindo a festa no salão social da extinta Caixa Econômica Estadual, então localizada na Rua 15 de Janeiro, onde hoje resta uma filial do Banrisul, Guindani, que detestava que o chamasem de Guindani ou de Osvaldo, pois, dado a sua empáfia e soberba, queria que o tratassem de Doutor Osvaldo ou Prefeito Guindani, me convidou para acompanhá-lo ao Baile de Escolha da Mais Bela Mulata de Canoas, que se realizava na Sociedade Cultural e Beneficente Castro Alves, então freqüentada somente por negros.

Primeiramente passamos na sua casa onde deixaria o filho que dormia no banco traseiro do seu carro. Enquanto acomodava o filho na cama e punha o traje com gravata, e inquerido pela sua esposa, Rose Mari Broch Guindani onde iríamos, respondi que passaríamos na Soeciedade Castro Alves e depois iríamos ao aniversário do França Jacobi, cuja festa aconteceria no apartamento do meu amigo e figurinista Dyrson Cattani (autor de belas e concorrida fantasias, mácaras e aderaços para Carnaval), então morando na Av. Ipendendência, em Porto Alegre. E, com tom de maldade, disse que iria à festa do França só porque o Prefeito ia junto.
- Por quê?, perguntou-me Rose.
- Como o Cattani é homossexual eu imagino como deverá ser as festas lá, respondi, já ironizando, pois bem que conhecia o Cattani e já havia participado de duas ou três festas em seu apartamento sem que absolutamente nada demais ou de anormal acontecesse. Pelo contrário, Cattani foi sempre um elegante, educado e requintado anfitrião.
- Ah! Então o Osvaldo não vai, assegurou Rose, que estava com um pé machucado e não podia calçar sapatos, ao que respondi:
- Ele é o Prefeito, tenho certeza que ele indo vão respeitá-lo e não vai acontecer nada de anormal.

Nesse meio tempo o Osvaldo, já devidamente aplumado de terno azul marinho e gravata, entra na sala. E de sopetão diz Rose:
- Osvaldo tu não vai sozinho, eu vou junto.
- Mas tu não pode calçar os sapatos, como é que tu vais?, retrucou Osvaldo.
- Não! O Xico me disse que só vai à festa do Cattani porque tu vai também, porque ele me disse ... Aí eu a interrompi.
- Eu não afirmei, apenas disse que imaginava que pudesse acontecer certas coisas, mas com a presença do Prefeito eu tinha a certeza de que nada do que eu imaginava pudesse acontecer. Sempre procurando ironizar. Aquele dia foi, prá mim, uma espécie de "vendetta".

Chegamos na Sociedade Castro Alves e não havendo mais lugar para estacionar o carro, já que o único lugar que havia impedia que os demais pudessem sair. Aí chegou um Negão (não sabia e nem nunca sube o nome do cidadão de cor preta), já bastante entornado, e com vez grave de um quase rouca, lascou:
- "Aqui não pode estacionar!". O Prefeito tentou argumentar, mas não houve cristo que o Negão concordasse. Aí eu disse:
- Osvaldo, deixa que eu contormo a situação. Saí do carro e fui até o Negão. E em voz baixa justifiquei:
- Negão! Esse aí é o Prefeito de Canoas, se tu não deixar ele colocar o carro aqui ele manda fechar o baile. E o Negão, concordando, respondeu com aquela voz grave e embargada de entornado:
- Então tá, mas a chave fica comigo.
O Osvaldo relutou desconfiado e com medo que o Negão roubasse alguma coisa ou o próprio carro. Aí novamente intervi:
- Esse Negão, Osvaldo, eu conheço há muito tempo. É gente fina, gente boa. Ele apenas tomou uns tragos a mais, mas é de total confiança. Assim, com o Osvaldo convencido, entramos no clube.

Tem seguimento ...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PERSONALIDADES QUE ME FIZERAM PERDER A ELEGÂNCIA E AS ESTRIBEIRAS

O ATOR GAÚCHO JOSÉ LEWGOY

Era uma das edições do Festival do Cinema de Gramado, ainda nos anos 80. E lá estava para cobrir o evento para o jornal em que trabalhava, o qual jamais se prontificou a custear qualquer despesa, nem mesmo a hospedagem em hotéis ou a gasolina de ida-e-volta à belíssima e aprazível Gramado. Mas eu, durante 22 edições do festival, me prontifiquei a fazer a cobertura para os meus leitores. Assim, com o apoio e o patrocínio de empresas locais, conseguia trazer informações exclusivas do que acontecia no evento, especialmente fatos ou feitos de bastidores, e muitas entrevistas sempre exclusivas. Jamais participei de coletivas, pois detestava aquele monte de jornalista fazendo perguntas idiotas e se revelando sem o menor preparo.

Assim, certo dia me encontrava no hall do Hotel Serra Azul, onde a maioria dos artistas convidados ficavam hospedados, a espreita de encontrar algum artista que fosse interessante entrevistar. De repente vi o ator gaúcho José Lewgoy, tio do delegado de polícia Alaor de Almeida Lewgoy, que se tornara meu amigo quando destacado para Canoas. Me dirigi até o ator Lewgoy, então tido como um dos grandes do cenário artístico, e procurei marcar um horário e dia para uma entrevista tranqüila e exclusiva. Ele se prontificou a concedê-la ali na mesma hora. Sentamos num grande sofá que era mais cômodo. Eu carregava, à época, um rádio gravador com fio longo para o microfone, que mais parecia uma mala, enquanto que a entrevista seria gravada numa fita cassete.

Antes é preciso detalhar um acontecido que eu presenciara junto ao balcão da recepção do Hotel. Cada apartamento era reservado para dois atores ou duas atrizes, mas José Lewgoy, por conta e risco, levou uma garota como companheira e se instalou no quarto, já que o outro ator que deveria ocupar a outra cama ainda não havia chegado. Mas naquele exato dia da entrevista eis que o outro ocupante do apartamento chegara. Devia ser uma sexta-feira e o festival encerrava no domingo. Lewgoy foi convidado a desocupar a outra cama e, assim, dividir o quarto com o outro ator convidado. E prá complicar ainda mais não havia apartamentos disponíveis no Hotel Serra Azul. Lewgoy, irritado, indignado dizia impropérios e garantia que não dividiria o apartamento sob a alegação de que estava acompanhado. A confusão se formou, enquanto isso o gerente do hotel tentava buscar outra alternativa para contornar a situação, mas, infelizmente, não houve como resolver dado todos os apartamentos estarem ocupados.

Nesse intermezzo Lewgoy se dispos a conceder-me a entrevista e assim nos acomodamos num grande sofá no hall do Hotel Serra Azul. Lá pelas tantas fôra chamado à recepção para dar uma solução aos problema que criara: ou seja, desocupar o outro leito do apartamento. Irritado e mostrando-se um perfeito ignaro por se achar um "big star" da televisão e do cinema nacional, antes de levantar-se do sofá onde concedia a entrevista, num inesperado ato impulsivo jogou o microfene e deu um safanão no gravador que estava sobre as minhas pernas, e que acabou caindo no chão. Achei que havia quebrado o gravador e, assim, estaria sem material para trabalhar até o final do festival. No mesmo momento, tomado de indignação, pois nada tinha a haver com a confusão que ele próprio tinha armado, retruquei polidamente com um sonoro:

- "Velho, fdp, vai a pqp". Foi o suficiente para que muita gente que se encontrava no hall do hotel se voltassem para nós, enquanto eu catava o microfone e o gravador do chão.

Cerca de 50 minutos ou uma hora depois, José Lewgoy cruza por mim, bate no meu ombro e diz:

- "Vamos continuar a entrevista?". Ao que, educadamente, respondi:

- "Agora não me interessa mais velho fdp e mal educado".

A cena foi testemunhada por Paulo Rogério Glaesler (meu ex-vizinho da Rua Frederico Guilherme Ludwig) e Cristina Würth, casualmente ambos meus conhecidos e amigos de Canoas, conforme mostra a foto.

Fim da cena ... Desce o pano!

O MINISTRO DA JUSTIÇA, PAULO BROSSARD DE SOUZA PINTO


Nunca fui de levar desaforo prá casa, partisse de quem partisse. E assim foi também com o então Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto, quando o presidente da República era José Sarney e o prefeito de Canoas, Carlos Loreno Giacomazzi.

Canoas havia recém deixado de ser Área de Segurança Nacional e, assim, eleito Carlos Loreno Giacomazzi (PMDB) o primeiro prefeito pelo voto popular depois de 21 anos de arbítrio. Ou seja, da nefasta ditadura militar. O Município carecia de maior segurança. Diante disso, depois de tratado com o Ministério da Justiça, Canoas ganhou 15 Fuscas que faziam parte da campanha "Ruas em Paz", promovida pelo Governo Federal. A cerimônia de entrega das 15 viaturas foi celebrada na Praça da Emancipação, em frente à primeira sede própria do governo Municipal (atual sede do governo municipal) e, obviamente, com a presença do Ministro da Justiça, Paulo Brossard de Souza Pinto (PMDB).

Eu estava Assessor de Imprensa do prefeito Carlos Giacomazzi e fazia a cobertura sob o enfoque oficial. Durante a cerimônia, ainda na Praça da Emancipação, ensaiei uma entrevista exclusiva com o Ministro Brossard de Souza Pinto. Porém, como toda a comitiva oficial e autoridades estavam se dirigindo para o gabinete do Prefeito, tive que interromper a entrevita.

Mas no trajeto de uns 50 metros entre a Praça e a sede da Prefeitura, então na Rua Ipiranga, 123, vendo o Ministro Paulo Brossard à frente do pelotão e sozinho, me apressei em concluir a entrevista. Consultado, Paulo Brossard de Souza Pinto acenou concordando em complementar a entrevista. Assim, caminhamos lado a lado enquanto eu fazia as perguntas e o Ministro ia respondendo serenamente, até porque na condição de Assessor de Imprensa do Prefeito não poderia fazer perguntas que o colocasse numa situação embaraçosa. De repente, sem mais nem menos, numa atitude impulsiva, incompreendida e malfeita, eis que o Ministro com um tapa joga o pequeno gravador, que eu portava na mão, na calçada. Prá uma personalidade da estirpe dele e considerando o posto que ocupava, não fosse o pedantismo e má educação, jamais poderia ter feito o que fez, até porque nenhuma pergunta era indiscreta, uma armadilha ou embaraçosa. Resumindo, um ato gratuito que revelou ser o ex-Ministro da Justiça, afora a sua propalada inteligência, um grosseiro e provalecido. Mas se deu mal porque encontrou um jornalista que não considera o cargo, mas as atitudes de quem ocupa certos cargos, e levou o troco na mesma medida da sua tosca atitude.

Sem entender o motivo de tão deselegante, incoseqüente e injustificado gesto, agachei-me e apanhei o gravador e as pilhas que haviam saltado do aparelho. Ao me levantar, tomado de indignação diante de tamanha incivilidade, disse explicitamente e sem rodeios ao Ministro da Justiça Paulo Brossard de Souza Pinto:

- "Ministro, vai a pqp, porque o senhor é muito mal educado", e apressei o passo chegando à frente de todos à Prefeitura. Aguardava por alguma reação do Ministro, mais ainda quando já estávamos todos no gabinete do prefeito Carlos Giacomazzi. Qual nada, o Ministro não demonstrou qualquer reação, mesmo que eu esperasse uma reclamação ao Prefeito ou coisa que o valha ... Acredito que no intemezzo entre o local do ocorrido e a chegada ao gabinete do Prefeito, Paulo Brossard de Souza Pinto, tido como um político inteligente, astuto e até sensato, deve ter consultado a sua consciência e analisado o injustificado e grosseiro ato que praticara. E, quiçá, até impactado pela minha inesperada e surpreendente reação. Daí a não re-reação dele.

Para felicidade minha e do próprio Ministro da Justiça tudo acabou num silencioso "happy end".

* Para ampliar as fotos basta um clique sobre as mesmas.
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

44 Anos de Crônica Social, Charme, Beleza e História

Recebi, hoje, o seguinte e-mail de uma amiga e jornalista, que vai abaixo assinado:
"Amigo, a momentos na vida que devemos agradecer por ter o privilégio de ouvir, ver e poder falar. Este teu trabalho é o exemplo do que estou falando, é TUDIBOM, eu que muitas destas belezas não conheci podes ter certeza que vendo e ouvindo, chorei....com a música é fantástico.
Imaginas as personalidades nele incluídas.
Parabéns amigo, que Deus te ilumine teu caminho hoje e sempre, proporcionando saúde, paz e vontade de produzir trabalhos maravilhosos, como este.
Um forte e grande abraço, desta amiga que, com certeza, gostaria de conviver mais contigo.
És uma fonte de conhecimento e cultura, um bem para qualquer colega da profissão.
Um forte abraço e um ótimo final de semana. Desculpe esta amiga atordoada.
Atenciosamente,
Leci da Silva.

Também a modelo e vice-Miss Canoas 1979, Aline Renz enviou uma simpática mensagem, onde diz: "Adorei. Muito legal o teu trabalho. Gostei muito. Bah, um histórico e tanto da "muguegada" (mulherada) de Canoas".


Leci da Silva refere-se ao slideshow que produzi, devidamente sonorizado com músicas românticas da época, sobre as misses, rainhas, etc, de Canoas dos anos 60, 70 e 80, cujo título é "44 Anos de Crônica Social, Charme, Beleza e História". Para quem aparece no slideshow pode ser apenas uma bela lembrança, mas na realidade trata-se de um DOCUMENTO HISTÓRICO singular e exclusivo, produzido com o propósito de resguardar a memória social de um tempo realmente memorável e o mais ativo, paticipativo, mais charmoso, borbulhante e glamouroso de todo o período da vida social de Canoas: os anos 60, 70 e 80. Sem a menor ponta de dúvida, pois fui testemunha participativo e oculuar desses eventos durante 38 anos ininterruptos como cronista social, além de ter promovido belas, elegantes e concorridas festas, como a Festa dos Destaque, quando os homenageados recebiam como outorga o Troféu Imagem. Isto a partir de 1973.

No slideshow vê-se as garotas concorrentes produzidas com refinado bom gosto, inclusive em alguns concursos, até com luvas brancas. E talvez o mais importante a destacar, até mesmo pelo zelo e pela feminilidade das garotas, eram a beleza das meninas-moças. Todas devida e, segundo a etiqueta social, corretamente trajadas, o que realçava não apenas a beleza, mas a elegância, o charme e o glamour daquelas jovens e belíssimas meninas.

Os bailes de escolha, fosse da Miss Canoas, Rainha das Piscinas, Namorada de Canoas, Miss Objetiva, Rainha da Primavera, Rainha dos Estudantes de Canoas, Glamour-Girl de Canoas, exigiam trajes completo: eles - os rapazes e homens - de terno e gravata e sapatos devidamente polidos, enquanto as meninas e as mães se produziam com o que de melhor ditava a moda da época, esta quase sempre copiadas de revistas importadas da França e da Itália. Não havia costureira que não tivesse os últimos exemplares das revistas de moda feminina. E os baile eram sempre animados com excelentes e categorizados conjuntos, como o Show Musical Carevelle (este o melhor do Estado), Os Sayffers e Apache, além de outros de renome de Porto Alegre, como Norberto Baldauf e Seu Conjunto, Primo e Seu Conjunto, Santa Paula, entre tantos mais, quando não por orquestras de excelência musical, como a de Salvador Campanella, Orquestra do Cassino (de Santa Cruz do Sul) ou a Orquestra de Sevilla. Nos anos sessenta até mesmo a imortal "Pimentinha" Elis Regina participou como cronner de um dos bailes de escolha da Glamour-Girl de Canoas, no Clube do Comércio, então localizado na rua Araçá, em frente à Vifosa ou como se dizia à época, a "Fábrica de Vidro".

* Pedidos de exemplares via e-mail: la-stampa@ig.com.br
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sábado, 12 de fevereiro de 2011

1976 - A "IV Festas dos Destaques" em traje de gala e a distinção com o exclusivo Troféu Imagem.

LEGENDAS: 1) O homenageado Pedro Beirão Capra apadrinhado por Léo Medina Martins na presença do cronista social e promotor da festa Xico Júnior e esposa Lílian Azambuja Pagot. - 2) O deputado federal Jorge Uequed apadrinhado por Michael gerente da Apesul. - 3) Vereador Luiz Ronaldo Borbosa recebendo a homenagem do filho, representando o pai Milton das Neves, então presidente da CDL. - 4) ... recebendo homenagem das mãos de Michael da Apesul. - 5) Filomena Ninov Meirelles recebe a distinção das mãos do diretor-presidente da TV Pampa, Otávio Dimitri Gadret. - 6) Dóris Triska (Oliveira) apadrinhada por Léo Medina Martins. - 7) Ângela Barth apadrinhada pelo deputado Carlos Loreno Giacomazzi. - 8) Rosani Ghewer recebe a distinção de José Darci Amorim, diretor superintendente da Massey Ferguson. 9) Marina Leal Longoni apadrinhada pela Rainha das Piscina do RGS 1972, Cíntia Poumann - 10) Prefeito Geraldo Gilberto Ludwig recebendo a distinção de Otávio Dimitri Gadret, diretor presidente da TV Pamapa, e 11) Pedro Darci de Almeida apadrinhado por Léo Medina Martins e vendo-se também o cronista social e promotor do evento Xico Júnior.

LEDENDAS - 1) Ernâni Fibrônio de Freitas recebendo a homenagem das mãos de Léo Medina Martins. - 2)Machael, gerente da Apesul entrega a distinção à Elizabeth Funck - 3)Gerente da Imobiliária ADN recebe a homenagem do vereador Luiz Ronaldo Barbosa. - 4) José Carlos da Silveira (o Aleluia), que recebe a homenagem das mãso do deputado Carlos Loreno Giacomazzi, cumprimentado pelo cronista e promotor Xico Júnior, vendo-se Lília Azambuja Pagot. - 5) Margot Teresinha Noal Giacomazzi recebendo a distinção do esposo e deputado estadual Carlos Loreno Giacomazzi. - 6) Teodorina (Dorinha) Neto apadrinhada pelo deputado estadual Carlos Loreno Giacomazzi. - 7) ..., Xico Júnior e Zilma Minella Biazus entregando a distinção à Vera Maria Ludwig Valdez. - 8) Laís Koch apadrinha por Otávio Dimitri Gadret, presidente da TV Pampa. - 9) Iara Job recebendo das mão de Léo Medina Martins a homenagem como "Catálogo de Brotos". - 10) Marinê Pedoni, do "Catálogo de Brotos", apadrinhada pelo gerente da Apesul. - 11) ... tendo como madrinha Cíntia Poumann, Rainha das Piscinas do RGS 1972. - 12) Eliane Thiesen, do "Catálogo de Brotos", recebe a homenagem das mãos do vereador Luiz Ronaldo Barbosa. - 13) Otávio Dimitri Gadret, presidente da TV Pampa apadrinhando Mírian Martins Couto, do "Catálogo de Brotos". - 14) Léo Medina Matins é homenageado e recebe a distinção do cronista e promotor Xico Júnior sob os olhares de Jorge Uequed. - 15) Rogério Caldana, da TV Pampa atuando como mestre de cerimônia.

LEGENDAS - 1) Vereador Manoel Pedro Severo da Silva recebe a distinção das mãos do deputado estadual Carlos Loreno Giacomazi. - 2) Darci José Amorim, diretor superintendente da Massey Fersugon, apadrinhado por .... - 3) Deputado Carlos Giacomazzi paraninfo de Olmiro Guindani. - 4) Gládis Ferreira Stoffel, uma de "As Dez Mais", paraninfada por Cíntia Poumann, Rainha das Piscinas do RGS 1972. - 5) Zilma Minella Biazus recebe a distinção como uma de "As Dez Mais", do gerente da Apesul. - 6) A Rainha das Piscinas do RGS 1972, Cíntia Poumann paraninfando o Secretário Municipal de Educação Gelson Gonçalves. - 7) ... Würth, uma de "As Dez Mais", apadrinhada por Darci José Amorim. - 8) Méri Luzia Bitello, do "Catálogo de Brotos", paraninfada pelo deputado Carlos Loreno Giacomazzi, e 9) Elizabeth Thremel da Silva recebe a homenagem na categoria "Catálogo de Brotos" das mãos de Darci José Amorim.

A FESTA DE GALA NO CANOAS TÊNIS CLUBE

Com exceção dos Baile de Debutantes, a edição IV Festa dos Destaques de Canoas foi a primeira festa realizada no Canoas Tênis Clube em traje de gala. Na ocasião, cuja iniciativa foi do cronista social e promotor do evento, Xico Júnior, foram homenageados as Personalidades NI (de Notória Importância), As Dez Mais (não confundir com "As Dez Mais Elegantes") e o Catálogo de Broto, num total de trinta homenageados, sendo dez em cada categoria. Pelo excessivo número de homenageados e homenageadas, trinta no total, não foi possível postar todas as fotos, até mesmo porque nos meus arquivos não há fotos de todos. Outro ponto alto da elegante festa foi o buffet, sempre categorizado e merecendo as melhores referências da totalidade dos presentes, teve griffe da ecônoma e banqueira number one da Grande Porto Alegre, Maria de Moura Horos.

Assim, a Festa dos Destaques, promoção que levava o signo do cronista social Xico Júnior e que contava com a outorga do Troféu Imagem, uma estatueta emblemática, criação e desenhado exclusivo do próprio cronista social e promotor do evento que, inspirado na arte neolítica para definir a cabeça, na arte grega (manto sobre o peito) e na arte Viking (mangas e calças bufantes), criou o Troféu Imagem, porém com uma apresentação de figura assexuada ou andrógina. A Festa dos Destaques se tornou em evento tradicional, cobiçado e muito concorrido na cidade de Canoas a partir do ano de 1973, quando da primeira edição realizada no hoje (lamentavelmente) extinto Grêmio Esportivo Niterói, o "Clube Grená" ou "Majestoso", como também era chamado.

* Para ampliar as fotos basta clicar sobre as mesmas.
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Inacreditável, mas me tornei um grande apreciador do bom "scotch" por receita médica

Por incrível que possa parecer uma receita médica para quem tem pressão baixa pode, além de manter equilibrada ou nornal a pressão, também tornar o paciente um alcólatra. Assim aconteceu comigo. E não estou jogando a culpa no médico, muito pelo contrário. Foi, digamos, imprevidência minha, pois o whisky passou a ser bom pelos motivos que logo explico. Foi por volta do início dos anos de 1970. Era uma tarde de verão próximo das 17 horas: O grupo de amigos sentados às mesas da Padaria e Lancheria Hampe (de Antônio Hampe Müller) dispostas na calçada da rua Guilherme Schell esquina Cel.Vicente bebericando cerveja, enquanto eu, meio isolado, cabisbaixo e sem motivação, bebia meu copo de leite, pois achava que estava com fome, fraqueza. Me sentia um tanto estranho e meio grogue.

Na rua Guilherme Schell, abaixo uns 80 metros, próximo da rua Pedro Weingartner, ficava a Clínica Médica do saudoso amigo e médico João Quintana (foto). Lá fui eu prá consultar e saber o que se passava comigo. De imediato o Dr. Quintana, como era conhecido, procurou logo saber como estava a minha pressão, tomou e conferiu: 8 x 4. Baixíssima. Eu sequer sabia o que isso significava. Mas lembro que o Dr. Quintana, com um ar meio de surpreso, falou que o estado que me sentia era conseqüência da pressão baixíssima. Eu nunca havia ingerido bebida alcoóloca. Aí veio a surpreendente receita: "Toma uma dose de conhaque diariamente", disse-me Quintana. Me apavorei, porque o conhaque era uma bebida forte e aí respondi que conhaque não, era muito forte. "Então bebe uma dose de whisky todos os dias. Se achares forte coloca uma ou duas pedras de gelo", que é o chamado whisky on the rock.

A patir da receita do amigo e médico João Quintana passei a cumprir o que me receitara: uma dose de whisky diariamente. A primeira doze on the rock que tomei foi no Bar do Ângelo (Baldo), na rua Cândido Machado esquina com Rua Ipiranga, em frente à sede da Prefeitura Municipal, em companhia do amigo Valdelírio (Hugo) Correa, um contumaz bebedor de whisky. Como ia bebendo lentamente, pois achava forte, o gelo ia derretendo e o whisky cada vez mais aguado. Aquilo começou a me dar ânsia de vômito. Aí o contumas bebedor Hugo Correa me aconselhou: "bebe o whisky sem gelo. A primeira doze vai queimar um pouco a garganta , a segunda já vai parecer mais suave, na terceira não vais mais sentir a ardência do whisky na garganta". E assim fiz por bom tempo. Só que nas festas, que eram praticamente de terças a sábados, ininterruptamente, pois o meu trabalho era de cronista social, a coisa foi engrossando e eu, praticamente sem me dar por conta, tomando mais doses do que me receitara o Dr. Quintana. Era uma vontade ou desejo instintivo de estar com o copo na mão ou, quando sentado, à minha frente.

Essa receita passou a ser um hábito e o hábito virou praticamente um vício, pois já não podia passar um dia sem beber uma ou duas doses do bom scotch. Além de tudo, me ajudava a perder a timidez e também diminuia a minha gagueira, essa adquirida aos 10 ou 11 anos, depois de um grande e apavorante susto. E assim a coisa foi evoluindo ao ponto de, poucas vezes é bem verdade, chegar a beber um litro e meio de whisky cow-boy numa noitada. Já chegara ao ponto de conhecer os melhores scotchs, como Ballantine´s, Johnnie Walker Red Label, Johnnie Walker Black Label, J & B, Teacher, Chivas, Jack Daniel´s, Grant´s, Buchanan, White Horse, etc. Em lugares que não haviam essas refinadas marcas de scotch no mínimo Passaport ou Natu Nobilis. Porém, jamais bebi de dia e nem antes das 19:30 ou 20:00 horas e da mesma forma jamais misturava whisky com qualquer outra bebida alcoólica. Acredito que subliminarmente dentro de mim corria sangue escocês.

Foram anos a fio conservado em selitivos scotchs. Talvez esteja aí a explicação de tanta paciência e persistência em permanecer durante 38 anos, ininterruptos, fazendo a magia que o colunismo social desperta na maioria das pessoas, revelando personagens e personalidades da high society canoense e até mesmo de Porto Alegre, quando o cobiçado point da noite era o pub Água Na Boca, do amigo Pedro Mello e Victor Hugo Tito, na José do Patrocínio e depois somente com Pedro Mello pontificando, então, num belo e antigo sobrado junto à Praça Conde de Porto Alegre. Claro, havia, ainda, o Encouraçado Butikin, que depois passou para Encouraçado 936, sempre na nobre Av. Independência.

O Água Na Boca era a casa noturna em que a movimentação começava de fato sempre depois das 23 ou 24 horas e onde os socialitès encerravam suas noitadas. E por lá passaram centenas de colunáveis da high society de Porto Alegre e de Canoas, quando lá realizei inúmeras festas privès, como "As Dez Mais", "Encontro dos Cancerianos" e "desfile de moda da Petruska Modas", da amiga Márcia Kovalew, quando fazia parte da equipe de manequins a saudosa atriz Leila (Gomes) Lopes.

No vaivém da movimentação da mais concorrida casa noturna do Portinho me encontrava com personalidades como Maurício Sirotski Sobrinho, os Borges Fortes, a belíssima Léa Caruso Guarise, a ex-primeira-dama Tereza Goulart, o poeta Jaime Caetano Braun, o então l´ottavo rè di Roma Paulo Roberto Falcão (sua marca era a elegância e a discrição e à época já jogava no Roma, Itália), os craques Renato (Gaúcho) Portaluppi, João Batista da Silva, casal Natalino e Nilza Tomazzi, os jornalistas: Magda Beatriz, Clóvis Duarte, Roberto (Tatata) Pimentel, Roberto Gigante, Carlos (Mário Pereira) da Maia, Sérgio Poli, o costureiro Cattani, a belíssima e simpática Márcia Petersen, entre mais e mais personalidades, jornalistas e colunistas sociais.

Além disso, Pedro Mello investia em grandes shows como o cantor espanhol Manolo Otero, Jô Soares, Fafá de Belém e outros artistas de renome nacional mais.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Diz o dito popular: "Cavalo encilhado não passa duas vezes" e uma estranha dupla coincidência.

Volta e meia me agarro à algum ditado e começo a refletir bastante em cima dele, tipo Olho vivo porque cavalo não desce escada. Sim, esses ditos populares, desprezados por muitos como clichês, mas que em determinados momentos da nossa vida nos fazem levantar de um tropeço, nos confortam em alguma situação embaraçosa e até mesmo através deles realizamos grandes prodígios.

Ultimamente tenho pensado muito neste adágio gaúcho que escolhi como título. De fato, sabemos que oportunidades na nossa vida aparecem e desaparecem como vultos numa noite escura, passamos os olhos por ele muitas vezes sem entender de fato o que ele quer nos alertar, advertir; falar que oportunidades são portas abertas para o paraíso da vida profissional ou financeira. Entre o sim e o não, essas duas vertentes são divisoras de águas a partir do momento em que apostamos ou refugamos, sem termos a oportunidade de saber como teria sido se tivéssemos escolhido a primeira opção. Ouso dizer que este é o tempero da vida, o que nos ensina a escolher, desde crianças quando optamos por jogar bola ou ler um bom livro sob pena de nos arrependermos de uma perna quebrada numa jogada dividida ou o fim trágico do mocinho da história nos gerando uma frustração.

Oportunidades nos surgem como o vento, que não podemos nem ver e nem ouvir, mas se estivermos atentos podemos sentí-las tal qual a suavidade de uma brisa. Escolhi, por timidez e por falta de recursos financeiros, deixar de entrar pra história através da televisão, decidido apenas trabalhar em jornais, deixando de montar no lombo do "cavalo encilhado da vida", que me obrigou a camperear pelo campos do jornalismo impresso.

Mas na minha vida profissional, em termo de convites para trabalhar em televisão, o "cavalo encilhado passou três vezes". E todos eu reneguei por timidez e desconhecimento. A primeira vez que o cavalo passou encilhado, e eu ignorei, foi quando recebi o convite do hoje saudoso amigo Vito Amaury Sotffel, então diretor presidente da Locarauto, a maior locadora de Porto Alegre, que me ofereceu fazer um programa na TV Difusora (hoje Band) e ele entraria com o patrocínio. Receoso, sem condições financeiras e tímido, acabei deixando passar a oportunidade. Tempos depois era o diretor comercial da TV Difusora, hoje advogado bem sucedido, Marco Antonio Birnfeld, que me fez convite para apresentar programa na emissora. E mais uma vez, por não conhecer como funciona uma televisão e como conseguiria roupas para me apresentar no programa, desprezei o convite, apesar da insistência do amigo Marco Antônio, hoje dono do site "Espaço Vital" junto com o filho Dionízio Renz Birnfeld. A TV Difusora, á época, pertencia à Ordem dos Frades Capuchinhos.

Os anos passaram, e a TV Difusora apresentava ao meio-dia o Progra Portovisão, que era dividido em diversos quadros. Fernando Vieira era o produtor do quadro Gente. Com a saída de Luiz Carlos Mello, Fernando Vieira me fez novo convite, então para substituir o Melinho e apresentar o quadro Gente, que versava sobre clubes e sociedade da Grande Porto Alegre. Pelas mesmas - e idiotas - razões, acabei evitando de me encontrar com Fernando, posto que o mesmo insistia que eu substituísse o Luiz Carlos, feito que ele mesmo acabou assumindo depois.

A ESTRANHA DUPLA COINCIDÊNCIA

Além dessas três vezes em que o "cavalo passou encilhado" e eu não montei, teve um outro fato curioso e de estranha coincidência. Lá pelo ano de 1971 - e eu havia recém me casado e já morando em apartamento -, em conversa com o saudoso amigo Ronaldo Francisco de Oliveira, resolvi trocar o nome da coluna social que assinava no semanário O Timneiro para O Colunão, pois a coluna social, na época, era grande e ocupava as duas páginas centrais do jornal. Lendo uma revista do Rio de Janeiro, que o amigo Ronaldo me levara, me deparei com um jornalista carioca, que assinava sob o pseudônimo de Xico Júnior (exatamente com "X" como eu) uma coluna de esportes intitulada O Colunão. Foi a partir daí que passei a assinar a coluna social somente com o meu pseudônimo Xico Júnior, que de pseudônimo acabou praticamente virando um nome de tão conhecido, não apenas no meio jornalístico, mas pela alta sociedade, amigos e fãs (desculpem a imodéstia) que cultuo até hoje e que me tratam com tal carinho e até dizem ser eu o maior referencial do jornalismo de Canoas, atitudes, exageradas é bem verdade, que mesmo assim comovem.
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domingo, 2 de janeiro de 2011

De cronista social da alta sociedade a apresentador de programa brega


No alto anúncio do programa "Real Musical Show", publicado no semanário O Timoneiro. Embaixo, o radialista Xico Júnior durante cobertura de evento popular no Parque Eduardo Gomes. E à direita, apresentando o programa "Real Musical Show" diretamente do estúdio da Rádio Real (1985).

No mesmo ano em que iniciava na crônica social, 1966, participava de um programa na Rádio Clube Canoas, então sob a direção de Ruy Figueira, que se tornou conhecido e reconhecido no Brasil inteiro, tendo sido o pioneiro na apresentação do mais importante noticioso do auge da melhor fase do rádio: "Repórter Esso". Depois Ruy Figueira passou a ter seu estilo copiado por outros apresentadores do centro do País. O programa (não lembro o nome), que ia ao ar aos domingos pela manhã, incluia, na variedade de assuntos que abordava, notícias sobre a movimentação social e a programação dos clubes sociais. Esse era o quadro do programa que coube a mim apresentar. E assim fiz meu debut como radialista.

Voltaria ao rádio, então na Rádio Real, que funcionava numa casa na Rua Domingos Martins, em condições de grande precariedade física e técnica, somente nos anos 70, quando reiniciei com o Programa Xico Júnior, um misto de noticiário de veriedades e musical, com lançamentos de discos, como o LP (vinil) "Baianos e Os Novos Caetanos" (Chico Anísio e Arnaud Rodrigues), programa que era gravado em fita cassete no estúdio da Sport Som (essa a primeira gravadora que surgia no município e funcionava também como loja de produtos musicais) do saudoso amigo e compadre Ronaldo Francisco de Oliveira, e que contava, entre outros, com a locução comercial de Jandir Sidney Lauther, cujo já vinha de experiências radiofônicas anteriores. O programa esteve no ar pelos 540 KHz da Rádio Real pelo período exato de nove meses.

Retornei à Rádio Real nos anos 80, produzindo e apresentando o Programa Xico Júnior Especial, que ia ao ar das 11 às 11:30 horas, em espaço que eu arrendava. O programa, que era multifacetado, abordando variedades sobre os mais diferentes temas até as badalações sociais, foi tirado do ar pelo gerente comercial da emissora, Aldo Vetorello, depois que tomou conhecimento que a emissora vendera meia hora de programa por Cr$ 100 mil mensais, enquanto eu faturava seis vezes mais, ou seja, Cr$ 600 mil mensais. É que os meus patrocinadores eram, como se diz na linguagem militar", de "alto coturno", como: Sbardecar - Revendedora Fiat; Massas e Biscoitos Pavioli, Massey Ferguson (tratores), Elegância Modas (a boutique mais chique da city), Petruskas Modas (boutique que por longo tempo fui o orientador e coordenador dos desfiles, sem falsa modéstia, com total sucesso e foi nesse tempo que lancei a depois atriz Leila [Gomes] Lopes, então como modelo e manequim. Portanto, a sua carreira profissional começou comigo nos anos 80), e Óticas Vênus que, além do patrocínio, brindava os ouvintes com um relógio da Tecknos, que era sorteado em cada programa, que, ao soar da vinheta E Agora a Loto Musical, compreendia responder o nome de três músicas que eram rodadas em horário indefinido ao longo das cinco horas de programa. Forma de manter os ouvintes ligados do início ao final do programa. Além dos relógios Tecknos, sorteava em todos os programas, carne para churrasco, blusas de seda, conjuntos de jeans, e até quarto infantil completo e colchões, quando, inspirado no que foi convencionado pelas famílias nas décadas de 50 e 60, que quartas-feiras era dia de namorar, dizia: Quarta é dia de sofá e sábado é dia de colchão, dando, assim, uma conotação a dupla interpretação, já que sorteava os tais colchões geralmente nos programas dos sábados à noite.

A partir da descoberta do diferencial do quanto pagava pelo programa e do faturamento que obtinha, o contrato verbal-moral foi rescindido e assim fui obrigado a obter o Registro de Radialista, feito que conquistei depois de dois meses de curso promovido pela Feplam - Fundação Educacional Padre Landel de Moura, em Tramandaí-RS, onde um grupo de novos radialistas e eu íamos todos os sábados, com aulas teórica e práticas realizadas no Galpão Crioulo e no estúdio de gravações da Rádio Tramandaí, curso este coordenado pelo amigo Gustavo Alves e que teve entre outros ministradores de técnicas o radialista Edy Amorim, que comandara durante anos o programa "Clube dos Namorados", então um dos programas de maior audiência do rádio gaúcho no Rio Grande do Sul. E eu fui um dos bons ouvintes do seu programa. Mas sequer imaginava que anos depois ele se tornaria meu ouvinte assíduo, exatamente, como me contou por telefone à época, pelo fato de apresentar uma seleção musical de bom gosto e fora do "lugar comum" que as músicas sertanejas haviam se tornado. Assim, com uma seleção musical diferenciada, fui ganhando centenas, milhares de ouvintes e até um "fã-clube", integrado pelas meninas que formavam os fãs-clubes dos cantores Jerry Adriani e Amado Batista. Não fazia a mínima idéia do quanto de poder o rádio tinha - e ainda tem - e assim, para muitos ouvintes, acabei me tornando uma espécie de ídolo. E o rádio, no tipo de programa que apresentava, me mostrou um outro lado que também sequer imaginava existir: a carência emocional, afetiva e sentimental de grande parte dos ouvintes, em especial às mulheres, pois estas com maior facilidade confidenciavam seus problemas mais íntimos, tal a confiança e o cativar que o rádio, mesmo AM, proporciona.

Lembro que o Grins colega de rádio, estava promovendo uma festa no Grêmio Esportivo Getúlio Vargas, em Canoas. E nas chamadas para a festa anunciava que, como atração, o Xico Júnior estaria presente. No dia e local marcados para a festa, me dirigi ao Clube, apenas pensando em me apresentar sem imaginar qualquer reação especial. Ao entrar no Clube, o colega Grings, que apresentava um programa só de bandinhas, com músicas do repertório alemão, anunciou a minha presença e a reação do público foi simplesmente surpreendente: mal consegui chegar até o palco com as mulheres querendo me agarrar, tirar fotos, conseguir um autógrafo e tudo sob intermináveis aplausos. E depois foi uma interminável fila para os autógrafos. Um acontecimento indiscritível, inesquecível e dignamente memorável. Me senti como um verdadeiro e singular ídolo, tal a recepção, a ovação e o carinho do público que lotava as dependências do Grêmio Esportivo Getúlio Vargas. No radialismo é somente isso que gratifica e que faz valer a pena: o público ouvinte.

Depois de descobrirem o quanto eu faturava com o Programa Xico Júnior Especial, passei, compulsoriamente, a ser funcionário da Rádio Real com um salário que mal dava para comprar dois LPs (Long Plays, discos ainda em vinil). Durante o tempo (cerca de 5 anos) que permaneci na Rádio Real, apresentei o programa Real Musical Show, no melhor estilo brega, como os segregadores e preconceituosos gostam de classificar, todos os sábados e domingos, das 19 às 24 horas. O diferencial, em relação aos demais programas das outras emissoras, era a distrinbuição de prêmios que chegava a Cr$ 1 milhão por mês, além de as outras emissoras rodarem somente músicas do repertório sertanejo, enquanto eu buscava um público exclusivo e carente de músicas românticas, oferecendo como opção um estilo criativo e, ao mesmo tempo, rebuscado, tanto em termos de seleção musical, com repertório dos anos 60 e 70, como no gênero do programa. Entre uma música e outro, um comercial e outro, eu introduzia frases que continham mensagens de conscientização. Só para exemplificar, tipo: "Verde é vida". Coisas que nenhuma rádio fazia à época. Assim, para fugir do "lugar comum", rodava músicas que fizeram sucesso numa fase anterior ao modismo das músicas sertanejas. Na proposta do novo programa, rodava músicas interpretadas por cantores e cantoras, como: Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Nelson Gonçalves (LPs que me eram emprestados pelo amigo radialista Jandir Sidney Lauther), Altemar Dutra, Sidney Magal, Trio Los Angeles, Paulo Sérgio, The Platters, The Beatles, Élvis Presley, Neil Sedaka, Paul Anka, Celly Campello, Tony Campello, Carlos Gonzaga, entre outros da época. As exceções eram as duplas sertanejas Duduca e Dalvan (somente a música "Espinheira", que tem uma letra de conscientização política), Matogrosso e Mathias (apenas duas: "24 Horas de Amor" e "De Igual Prá Igual") e Amado Batista (com "Chance", que virou coqueluche à época, pois Amado Batista já havia vendido mais discos que o próprio "rei" da Jovem Guarda, Roberto Carlos).

Um capítulo à parte: Amado Batista venceu na música, mas batalhou incansavelmente para chegar ao sucesso. Eu o conheci numa noite de sábado quando esteve em visita ao programa "Real Musical Show". Confesso que não o conhecia e mal houvira falar dele. De repente olho pelo vidro que dava para a técnica e vejo aquele homem de aspecto meio rude, parecendo um trabalhador, trajando calça jeans e camisa xadrês. Conversou com o sonoplasta e logo se dirigiu para o estúdio. Se apresentou de forma singela e com um ar de humildade. Assim que a luz do estúdio foi ligada e o microfone aberto, anunciei ao público ouvinte a presença de um dos maiores ídolos da música romântica brega, ou sertaneja como muitos classificavam o gênero interpretado por Amado Batista, e na seqüência, como não poderia ser diferente, a entrevista. E nela descobri, além da humildade e da simplicidade do ídolo que vendia milhões de discos em todo o Brasil, uma pessoa de elevado caráter profissional e invejável (no bom sentido) determinação, pois se dispusera a sair de Porto Alegre depois das 21 horas, como revelou, para estar num programa em Canoas, por volta das 22 horas. Isso é determinação, e essa determinação e simplicidade o levaram ao sucesso, merecidamente. Não me tornei um fã do cantor Amado Batista, mas um admirador da pessoa Amado Batista e da sua simplicidade e humildade.

Na Rádio Real meu compromisso era a apresentação do programa, porém, por falta de equipe, eu me desdobrava, obrigado, em três funções: produção, direção e apresentação. Tal durou até um gerente que havia sido contratado pelo dono da rádio Amabílio Joaquim, porém sem qualquer espírito de liderança e comando mesmo tendo mais de 40 anos de vivência no radialismo, conforme dizia, e que havia substituído seus antecessores: os saudosos canoenses Orlando Bonorino e Juan Darcy, que, ao saber do meu bom ralacionamento, influência e penetração nas áreas social, comercial e industrial de Canoas, em lugar de ser solícito, diplomático e gentil, passou a me exigir de forma impostora, que faturasse o que representava uma babilônia para a época, inclusive pelo alcance e a falta de qualidade da grade de programação da rádio, e me dizia, sentenciandoe por mais de uma vez: "Ou tu fatura X milhões por mês ou tiro o programa do ar". Eu sempre respondia, tácito: "Podes tirar o programa do ar". Até porque o que ganhava como salário era algo irrisório, pois mal dava para comprar dois LPs de vinil, coisa, aliás, que fazia, pois tinha que levar a minha coleção de discos de casa, porque a discoteca da rádio ficava trancafiada, impedindo que eu usasse discos da própria rádio. As condições do estúdio e do setor da técnica eram precaríssimas, e não foi uma única vez que o técnico-sonoplasta teve que usar velas para por os discos a rodar durante o programa por falta de lâmpadas, tão crítica a situação. Nem mesmo diante da reinvindicações as lâmpadas eram compradas imediatamente, e assim os pedidos eram postergados, pois as compras dependiam do dono da rádio, Amabílio Joaquim. O piso era de madeira, assim bastava o técnico de som bater firme com o pé no assoalho que rodava as seis faixas do LP numa tocada só, de tão precárias as condições. Um quadro negro inacreditável, porém, e lamentavelmente, verídico. Fui despedido por carta em meio as férias. Depois que apontei a ilegalidade, esperaram eu retornar e aí a carta de demissão.

Não dei a menor importância à falta de diplomacia, pois o fato de eu ter voltado a fazer rádio não tinha sido pelo salário, mas porque resolvera me tornar abstêmio, após cerca de 28 anos de bom tomador de "scoth" de boa origem, e assim tinha um compreensível e justificável motivo para "fugir" dos amigos de trago que insistiam para que participasse dos encontros alcoólicos. E valeu muito ter passado aquele período à frente do microfone, que me serviu como mais uma bela e significativa experiência, pois passara a me comunicar com outro estilo de público que não o da rotineira "high society".

Aliás, ainda hoje (abril de 2010) acredito nos bons resultados, tanto em termos de audiência como financeiros, à emissora AM ou FM que retomar a apresentação das famosas radionovelas dos anos 50 e 60, diferenciando-se, portanto, das demais que insistem na mesmice. Ou seja, todas as emissoras de rádio, AM ou FM, mantém o mesmo estilo, praticamente as mesmas grades de programações assemelhadas, pouco ou nada se diferenciando uma das outras.

UMA EXPERIÊNCIA SUPER EMBARAÇOSA

Fazia mal uns três meses que eu estava apresentando o programa "Real Musical Show", que contava com a participação do ouvinte no ar, via telefone. O profissional da técnica atendia e passava o telefone para o estúdio. Eu levantava o aparelho do gancho e fazia a tradicional pergunta: "Alô! Quem está falando?", ou "Quem está chegando?", "Quem está na linha?", coisas assim. Nem sempre a linha telefônica funcionava com perfeição, pois de quando em vez ruídos ou interferências dificultavam a comunicação com o ouvinte. Mas numa certa noite fui surpreendido com uma inesperada e espantosa ligação e a linha telefônica limpa, sem qualquer ruido. Fiz uma das tradicionais perguntas, e a resposta do outro lado da linha quase me derrubou:
- "Alô, quem está falando?", perguntei
- "É a bu... da tua mãe", respondeu a voz anônima do outro lado da linha em tom super audível.
De imediato fiz sinal para o sonoplasta cortar a ligação e com a mão fazia sinal para que rodasse uma música qualquer. Tinha sido tomado de surpresa. Uma surpresa inimaginada, constrangedora e embaraçosa, já que a voz do rapaz ou homem entrou limpa no ar e com um grosseiro palavrão. Tive pouco mais de dois minutos para raciocinar o que diria no retorno do programa. Se criticasse, injuriasse o ouvinte que disse tal barbaridade cairia na "vala comum" e seria o que todos ou a maioria estaria esperando. Pensei, pensei e cheguei a conclusão que deveria tratar o caso de forma exatamente inversa: mostrando compreensão, paciência e usando de psicologia. Assim que ascendeu a luzinha vermelha e o microfone foi aberto, sem maiores rodeios, fui claro, direto e objetivo: "Todos, com certeza, ouviram a barbaridade que um ouvinte acabou de dizer a pouco por telefone. Não estou zangado e nem chateado com ele, pois acredito que ele esteja passando por algum momento de dificuldade, por algum problema emocional ou sentimental. Assim, gostaria que essa pessoa que ligou para a rádio fazendo um desabafo em tom nada elogiável, nos procurasse para que pudéssemos conversar e quem sabe poderemos ajudá-lo. Mas pedimos que jamais volte a ter tal atitude, porque uma rádio com centenas ou milhares de ouvintes não é um canal apropriado para esse tipo de desabafo, esse tipo de atitude. Assim, renovamos o convite para que essa pessoa nos procure na rádio e venha conversar com a gente. Estamos aqui também para ajudar que precisa desse tipo de apoio". A reação dos ouvintes foi impressionante. A partir do meu comentário e da disposição de conversar com uma pessoa que provavelmente estaria passando por problemas de ordem emocional ou sentimental, apesar da grosseria que havia cometido, fez com que os ouvintes esquecessem de pedir suas músicas e passaram a só nos elogiar e agradecer pela atitude e pelo espírito de compreensão. Assim foi até o final do programa, claro que eu procurando conduzir o programa dentro da maior normalidade e conforme já havia sido programado, com músicas, sorteio de brindes e brincadeiras anunciadas com vinhetas, do tipo: "Qual é a música?", "Guerra Entre os Astros", "E agora a Loto Musical", etc.

Revelo que foi uma atitude surpreendentemente embaraçosa e constrangedora, ao mesmo tempo um gancho que fez com que capitalizássemos ainda mais a simpatia e o respeito dos ouvintes. Aquela noite dormi pensando na atitude daquele ouvinte anônimo e no seu provável problema, mas por outro satisfeito e realizado profissionalmente.

OS "VERDE-OLIVA" E A ORDEM DE PRISÃO

O presidente da República ou interventor nomeado pelos militares, general Ernesto Geisel, vinha a Porto Alegre para um compromisso, que não recordo qual. No decorrer do programa "Real Musical Show", além de variedades, frases de concientização, músicas e brincadeiras com sorteio, sempre anunciava algum fato sobre os mais diferentes assuntos. Naquele sábado de noite, anunciei que o Presidente Ernesto Geisel estaria chegando ao Estado acompanha da sua "troupe", um francesismo que costumava usar também na coluna social no jornal, expressão que usava com o sentido de grupo, comitiva. Obviamente, que na notícia encaixara o termo "troupe", ainda que subliminarmente, com o propósito de dar uma conotação, um sentido de "tropa". Era uma forma de enganar a censura e de não ser rotulado de "revolucionário", ou pior, de "comunista" anti-ditadura. Aí o "grampo" seria obviamente inevitável e injustificável para os impiedosos e bárbaros "carrascos da redentora".

O texto foi mais ou menos este: "O presidente da República, general Ernesto Geisel, estará desembarcando amanhã no Aeroporto Salgado Filho, para compromisso no Estado, acompanhado da sua "troupe", pois que vinham ministros de diferentes pastas, inclusive o general Ruben Carlos Ludwig, com quem tive contatos, digamos, bastante íntimos e um encontro reservado na residência da sua saudosa mãe Iracema Ludwig, na histórica Villa Mimosa, juntamente com o saudoso Léo Medina Martins, entre outros agregados ao Gabinete da Presidência. E assim continuei comandando o programa. Passaram-se cerca de 40 ou 50 minutos quando entra rádio adentro, pisando com passadas firmes e fortes no assoalho de madeira, quatro militares do Exército, devidamente fardados de verde-oliva. Falaram com o sonoplasta que indicou como eles poderiam chegar ao estúdio onde eu me encontrava. Invadiram o estúdio sem se preocuparem se o microfone estava aberto ou não, e logo um sargento, que liderava o quarteto, ordenou:
- "O senhor está preso!"
Mostrando desconhecer o motivo, e já tremendo e as pernas bamboleando, perguntei:
- "Senhor! Posso ao menos saber qual a razão?"
- "O Senhor faltou com o respeito com o Presidente e toda a sua comitiva ao anunciar que o Presidente estava chagando com sua tropa".
- "Com todo o respeito, acrescentei, mostrando-me seguro e sem deixar transparecer medo, não usei esse termo, mas sim o termo francês "troupe", com o sentido de comitiva, de grupo, mas jamais com o objetivo de ofender o Presidente. E como somos obrigados a gravar todos os programas e mantê-los guardados por cinco anos, podemos passar até a técnica e lá os senhores vão comprovar que o termo que usei foi exatamente "troupe" e jamais tropa".
Diante da minha argumentação, justificativa e insistência, o sargento concordou em ir até a técnica e lá, em tom ausero e até arrogante como era modelar hábito da maioria dos militares à época, incontinenti ordenou o sonoplasta que rodasse a fita onde constava a notícia referente à chegada do Presidente da República a Porto Alegre. Feito isso, e depois de ouvir três ou quatro vezes a gravação para, assim, certificar-se, ele próprio concordou que o termo usado havia sido "troupe" e não tropa, como havia dito. Antes de se retirarem, pôs a mão sobre o meu ombro direito e lascou um alerta em tom de ordem:
- "Dessa vez passa, mas evite de usar termos que possam confundir ou dar conotações pejorativas, pois da próxima vez não haverá explicações e nem justificativas, entendido?"
- "Entendido. E assim será. Vamos evitar palavras ou expressões que possam causar possíveis mal entendidos".
- "Assim esperamos! E bom programa!"
E logo retiram-se, com as mesmas passadas fortes e firmes que faziam o assoalho estremecer, sem sequer se um "boa noite".

Sinceramente, depois de comprovar que já haviam embarcados num jipe do Exército e tomado o rumo de Porto Alegre, rindo, porém sem muita graça, fui conversar com o colega da técnica, que me confessou também ter tremido da cabeça aos pés depois de ouvir a ordem, dado com tom grave e a carranca mais grave ainda, de reprisar o texto da notícia. Bebemos um pouco de refrigerante que eu tinha levado para a rádio e voltamos a apresentar o programa.
Confesso que teve um momento em que pensei - e foi aí que comecei a tremer - que passaria pelo menos uma noite num dos porões do DOI-Codi ou do Exército, que era para onde levavam os cidadãos classificados pelos militares e carrascos da Ditadura como "revolucionários" ou "comunistas".

Escapei de ser classificado e fichado como "terrorista" ou "comunista" por muito pouco ..., graças a Deus e à explicação com a reação de provar que eles, os "verde-oliva", estavam enganados, felizmente.

* As fotos podem ser ampliadas com um clic sobre as mesmas.
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