domingo, 6 de fevereiro de 2011

Inacreditável, mas me tornei um grande apreciador do bom "scotch" por receita médica

Por incrível que possa parecer uma receita médica para quem tem pressão baixa pode, além de manter equilibrada ou nornal a pressão, também tornar o paciente um alcólatra. Assim aconteceu comigo. E não estou jogando a culpa no médico, muito pelo contrário. Foi, digamos, imprevidência minha, pois o whisky passou a ser bom pelos motivos que logo explico. Foi por volta do início dos anos de 1970. Era uma tarde de verão próximo das 17 horas: O grupo de amigos sentados às mesas da Padaria e Lancheria Hampe (de Antônio Hampe Müller) dispostas na calçada da rua Guilherme Schell esquina Cel.Vicente bebericando cerveja, enquanto eu, meio isolado, cabisbaixo e sem motivação, bebia meu copo de leite, pois achava que estava com fome, fraqueza. Me sentia um tanto estranho e meio grogue.

Na rua Guilherme Schell, abaixo uns 80 metros, próximo da rua Pedro Weingartner, ficava a Clínica Médica do saudoso amigo e médico João Quintana (foto). Lá fui eu prá consultar e saber o que se passava comigo. De imediato o Dr. Quintana, como era conhecido, procurou logo saber como estava a minha pressão, tomou e conferiu: 8 x 4. Baixíssima. Eu sequer sabia o que isso significava. Mas lembro que o Dr. Quintana, com um ar meio de surpreso, falou que o estado que me sentia era conseqüência da pressão baixíssima. Eu nunca havia ingerido bebida alcoóloca. Aí veio a surpreendente receita: "Toma uma dose de conhaque diariamente", disse-me Quintana. Me apavorei, porque o conhaque era uma bebida forte e aí respondi que conhaque não, era muito forte. "Então bebe uma dose de whisky todos os dias. Se achares forte coloca uma ou duas pedras de gelo", que é o chamado whisky on the rock.

A patir da receita do amigo e médico João Quintana passei a cumprir o que me receitara: uma dose de whisky diariamente. A primeira doze on the rock que tomei foi no Bar do Ângelo (Baldo), na rua Cândido Machado esquina com Rua Ipiranga, em frente à sede da Prefeitura Municipal, em companhia do amigo Valdelírio (Hugo) Correa, um contumaz bebedor de whisky. Como ia bebendo lentamente, pois achava forte, o gelo ia derretendo e o whisky cada vez mais aguado. Aquilo começou a me dar ânsia de vômito. Aí o contumas bebedor Hugo Correa me aconselhou: "bebe o whisky sem gelo. A primeira doze vai queimar um pouco a garganta , a segunda já vai parecer mais suave, na terceira não vais mais sentir a ardência do whisky na garganta". E assim fiz por bom tempo. Só que nas festas, que eram praticamente de terças a sábados, ininterruptamente, pois o meu trabalho era de cronista social, a coisa foi engrossando e eu, praticamente sem me dar por conta, tomando mais doses do que me receitara o Dr. Quintana. Era uma vontade ou desejo instintivo de estar com o copo na mão ou, quando sentado, à minha frente.

Essa receita passou a ser um hábito e o hábito virou praticamente um vício, pois já não podia passar um dia sem beber uma ou duas doses do bom scotch. Além de tudo, me ajudava a perder a timidez e também diminuia a minha gagueira, essa adquirida aos 10 ou 11 anos, depois de um grande e apavorante susto. E assim a coisa foi evoluindo ao ponto de, poucas vezes é bem verdade, chegar a beber um litro e meio de whisky cow-boy numa noitada. Já chegara ao ponto de conhecer os melhores scotchs, como Ballantine´s, Johnnie Walker Red Label, Johnnie Walker Black Label, J & B, Teacher, Chivas, Jack Daniel´s, Grant´s, Buchanan, White Horse, etc. Em lugares que não haviam essas refinadas marcas de scotch no mínimo Passaport ou Natu Nobilis. Porém, jamais bebi de dia e nem antes das 19:30 ou 20:00 horas e da mesma forma jamais misturava whisky com qualquer outra bebida alcoólica. Acredito que subliminarmente dentro de mim corria sangue escocês.

Foram anos a fio conservado em selitivos scotchs. Talvez esteja aí a explicação de tanta paciência e persistência em permanecer durante 38 anos, ininterruptos, fazendo a magia que o colunismo social desperta na maioria das pessoas, revelando personagens e personalidades da high society canoense e até mesmo de Porto Alegre, quando o cobiçado point da noite era o pub Água Na Boca, do amigo Pedro Mello e Victor Hugo Tito, na José do Patrocínio e depois somente com Pedro Mello pontificando, então, num belo e antigo sobrado junto à Praça Conde de Porto Alegre. Claro, havia, ainda, o Encouraçado Butikin, que depois passou para Encouraçado 936, sempre na nobre Av. Independência.

O Água Na Boca era a casa noturna em que a movimentação começava de fato sempre depois das 23 ou 24 horas e onde os socialitès encerravam suas noitadas. E por lá passaram centenas de colunáveis da high society de Porto Alegre e de Canoas, quando lá realizei inúmeras festas privès, como "As Dez Mais", "Encontro dos Cancerianos" e "desfile de moda da Petruska Modas", da amiga Márcia Kovalew, quando fazia parte da equipe de manequins a saudosa atriz Leila (Gomes) Lopes.

No vaivém da movimentação da mais concorrida casa noturna do Portinho me encontrava com personalidades como Maurício Sirotski Sobrinho, os Borges Fortes, a belíssima Léa Caruso Guarise, a ex-primeira-dama Tereza Goulart, o poeta Jaime Caetano Braun, o então l´ottavo rè di Roma Paulo Roberto Falcão (sua marca era a elegância e a discrição e à época já jogava no Roma, Itália), os craques Renato (Gaúcho) Portaluppi, João Batista da Silva, casal Natalino e Nilza Tomazzi, os jornalistas: Magda Beatriz, Clóvis Duarte, Roberto (Tatata) Pimentel, Roberto Gigante, Carlos (Mário Pereira) da Maia, Sérgio Poli, o costureiro Cattani, a belíssima e simpática Márcia Petersen, entre mais e mais personalidades, jornalistas e colunistas sociais.

Além disso, Pedro Mello investia em grandes shows como o cantor espanhol Manolo Otero, Jô Soares, Fafá de Belém e outros artistas de renome nacional mais.

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