quarta-feira, 24 de março de 2010

Tudo acontece de repente ... e às vezes com a ajuda de um bom cicerone

Como já foi dito, a palavra escrita só existe prá registrar a palavra falada. E meu hodômetro está chegando nos 66 (hoje já próximo dos 7.0), e eu, da vida badalativa plena passando para uma fase de quase ermitão, mergulhado no próprio casulo. É daí que vêm as lembranças de toda uma trajetória de altos e baixos profissionalmente, mas sempre elevada em termos de dignidade, posto que sempre dei valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam, pela sua essencialidade em relação aos valores humanos. E assim, aqui, deixo a descoberto a minha alma e os meus sentimentos, sem me importar com escrúpulos, opiniões de terceiros ou por me importar com comentários que fogem a linha da elegância. Só me valem as opiniões e os comentários de pessoas que são verdadeiros "gentlemen".

E foi em meados de 1966 que, de repente e sem saber exatamente porque, fui surpreendido com o convite para escrever no jornal. Era O Timoneiro, semanário, recém lançado. Jamais me passara pela cabeça tal feito, então pedi uns dias para pensar. Como ia muito a festas, e sendo filho de pais pobres, o que gastava para participar das festas representava bastante, acabei aceitando, porém com a condição de fazer crônica social. Ou como disse: "Só se for prá fazer cobertura das festas". Aliás, crônica social: coisa que sequer tinha lido uma única vez na vida. Aceito o desafio, pus-me a campo, sem eira nem beira. No meio do caminho não havia uma pedra, como versou o poeta Carlos Drummond de Andrade, mas o fotógrafo Luciano Montagna, que já tinha um certo pique e conhecia muitas das personalidades, mulheres e garotas que freqüentavam as boas festas. Assim, ele acabou tornando-se, profissionalmente, o meu cicerone.

E nesse exato ano de 1966, no dia 13 de agosto, uma sexta-feira (nada bom para os superticiosos), era lançada a edição Nº 13 do Almanaque Tio Patinhas. Mera coincidência, acredito.

Foi sendo levado, orientado e apresentado pelo amigo e fotógrafo Luciano Montagna que fui me infiltrando, primeiramente, entre a turma da juvenilíssima. Assim, com ele fazendo as fotos e me cedendo para postar na coluna, fui me tornando conhecido e, felizmente, bem lido. Semanalmente, às sextas-feiras, era aquele fuzuê prá ler a minha coluna, especialmente as meninas, e cada qual mais linda do que as outras. E lá iam especular prá ver quem eu tinha destacado, citado o nome ou feito alguma fofoca (no bom sentido, e nisso a "Candinha" nem precisava se preocupar, pois eu não era concorrente dela). E gradualmente fui conhecendo também as mulheres, os casais, as personalidades e autoridades da cidade e, inclusive entre eles, passei a ser, sem falsa modéstia, super bem aceito, lido e respeitado. O número de leitores, assim, ia aumentando à cada edição, a cada semana.


O primeiro evento de destaque que cobri como cronista social - prefiro o termo cronista, porque me parece ser mais adequado ao comentário, à crônica e à crítica acerca de política, arte, literatura e vida social - foi o Baile de Debutantes do Clube Cultural Canoense, quando, então, posei com a debutante Sônia Jardim, na minha primeira foto como cronista. O segundo registro fotográfico, ainda como cronista, foi também no Clube Cultural Canoense ao lado de colegas, por ocasião da escolha da Miss Objetiva do CCC, título que ficou com a canceriana Diana Rejane Schumann, que depois fez televisão na TV Piratini e cinema aqui no Sul com Taixeirinha, seguindo logo para o centro do País, onde trabalhou em novelas da Rede Globo, como está estampado nesta página.

Iniciei na terceira edição do semanário O Timoneiro, como disse, numa sexta-feira 13 de agosto de 1966, assinando com o nome de batismo. A partir da edião nº 4, que circulou no dia 20 de agosto, passei a adotar o pseudônimo de Xico Júnior. Um criptônimo que acabou virando um nome e uma referência no jornalismo citadino.

No início, como jamais havia sequer lido coluna social, me utilizei da técnica do pastiche, e me inpirava no amigo Luiz Carlos (Machado) Lisboa, que à época assinava a coluna social "Painel", na hoje extinta Folha da Tarde, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, então pertencente ao "velho" Breno Caldas. Já no final de 1966 até fins de 1968 fui correspondente da Folha da Tarde, sob a coordenação de Flávio Carneiro, além de assinar a coluna social sobre os acontecimentos sociais de Canoas. Deixei a Folha da Tarde, quando incumbido de fazer uma reportagem sobre a inacabada ponte do Rio dos Sinos (a travessia era ainda feita por balsa), que ligaria Canoas ao então segundo distrito de Santa Rita, pois a Caldas Júnior - como acontece muito ainda hoje nos chamados "jornalões" - não dispunha de um carro, nem fotógrafo e menos ainda dinheiro para que pudesse me deslocar até o local para a realização da dita reportagem. Me restava uma única alternativa: recorrer ao bom senso do prefeito Hugo Simões Lagranha.

Como eu era amigo do prefeito Hugo Simões Lagranha, e como amigo ele confiava em mim, consegui que me liberasse (em off) fotos e matérias referentes ao projeto e as obras da inacabada ponte. No dia seguinte do envio da matéria, as duas página centrais da Folha da Tarde - então um espaço nobre reservado para reportagems de relevância - saiu publicada a reportagem assinada por mim. No dia imediato fui ao Flávio Carneiro e pedi as contas. Encerrou-se aí o meu período de correspondente da Folha da Tarde.
Esta balsa, do mesmo modelo e estilo da que era utilizada nos anos 60 na travessia do Rio dos Sinos, na ligação Canoas com o 2º Distrito de Santa Rita (hoje município de Nova Santa Rita), é utilizada na travessia do rio entre Sapucaia do Sul e Nova Santa Rita.
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